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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Helder Moura Pereira — Apagaram-se as luzes azuis da ambulância

 

Apagaram-se as luzes azuis da ambulância

e mais ficou na nossa imagem a cor do sangue.

No trajecto vi mais o teu ser do que à mesa,

na cama, no trabalho, o que vi deixou-me

descansado: humano, demasiado humano.

Tudo podia ter sido mais fácil, eis o que pode

dizer qualquer um, e mesmo que quase não

haja dinheiro para o táxi e te sintas à beira

do precipício, levanta a garganta e berra

para aí até já não haver quem te oiça.

Da missa metade não soube em tua história

e também não é preciso, todos nós já corremos

para um hospital e viemos de lá a cheirar

a doença e a morte. Por nós ou por outros,

nessa grande casa da tristeza e do alívio,

democracia total o acaso que dispara

e acerta ou não acerta em quem vai a passar.

Alguém te segura à beira da derrocada

e te pergunta saberás se lá no fundo há

algo que valha a pena? Pode ser que sim,

pode ser que não, ninguém sabe.

Pereira, Helder Moura, Se as coisas fossem o que são, Lisboa: Assírio & Alvim, 2010. via → Blogue da Editora Assírio & Alvim

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